O Sobrinho do Mago, de C. S. Lewis | Resenha

A leitura de O Sobrinho do Mago foi muito diferente do que eu imaginava. Mas, como nunca tinha visto nenhum dos filmes de As Crônicas de Nárnia antes de ler este livro, estava também sem saber muito o que esperar. E acabei me surpreendendo bastante!

Dentro da ordem cronológica da história, este é o primeiro dos 7 livros da série, onde conhecemos o princípio de Nárnia, tudo antes de sua existência e o processo de toda a sua criação, assim como a entrada do mal neste mundo mágico.

Título: O Sobrinho do Mago
Autor: C. S. Lewis
Editora: WMF Martins Fontes
Páginas: 184
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A história de O Sobrinho do Mago

Tudo começa quando Digory e Polly se conhecem e, em um dia de tédio, acabam parando no gabinete do tio André. Polly toca em um anel mágico, enganada pelo tio André, e desaparece em um piscar de olhos. Desesperado com o desaparecimento de sua nova amiga, Digory decide partir também para o Outro Mundo, viajando através do outro anel.

Acontece que tudo não passa de uma armação do Tio André, que sempre soube dos poderes mágicos dos anéis, mas nunca teve coragem o bastante para viajar por si só.

Digory e Polly mergulham em uma viagem cheia de imagem, pelo Outro Mundo, um lugar que eles nem imaginavam que poderia existir. E é assim que começam as aventuras, como conhecer uma Feiticeira que deseja vir para o mundo real e encontrar Aslam cantando uma canção e criando o mundo de Nárnia.

O que achei da leitura

Muitas pessoas não fazem ideia de que As Crônicas de Nárnia é uma ficção cristã, o que me espatnta muito. Logo nesse primeiro livro vemos tantos paralelos e tantos valores cristãos que é muito claro o que o próprio Lewis acredita. E, sinceramente, é impossível não se emocionar. Especialmente se você já leu os primeiros capítulos de Gênesis, notará várias similaridades encantadoras entra a criação do mundo e a criação de Nárnia.

Lewis nos apresenta valores profundos e provoca reflexões, tornando O Sobrinho do Mago em uma leitura muito rica, embora o livro tenha apenas 184 páginas e sua narrativa seja bastante simples, afinal tudo está sendo visto pelos olhos de duas crianças. A simplicidade da escrita é como realmente de uma história infantil, mas é tão profunda que conquista qualquer pessoa, em qualquer fase da vida.

A eternidade com um coração mau é a perenidade da desgraça. Todos conquistam o que desejam, mas nem sempre se satisfazem com isso.

O Sobrinho do Mago

Existem muitas lições preciosas em toda a história, sobre amor, coragem, o bem e o mal que habita no coração humano, o desejo de agradar a Deus.

Por exemplo, na criação de Nárnia, encontramos ali a figura do cocheiro, um homem simples que nunca imaginou que um mundo diferente do mundo real pudesse existir, e o tio André, que teve sempre a ganância (não a curiosidade!) de descobrir o que havia além do mundo real.

No entanto, ao se deparar com o Bem e o extraordinário do que estava sendo feito diante de seus olhos – a criação de Nárnia! -, quem ficou maravilhado foi o simples cocheiro, enquanto o tio André encontrava-se aterrorizado.

Lewis expõe simples (mas profundas) reflexões sobre a relativização do que é certo e do que errado, especialmente da busca desenfreada pelo que se deseja sem avaliar se os meios são certos. 

Riam sem temor, criaturas. Agora, que perderam a mudez e ganharam o espírito, não são obrigados a manter sempre a gravidade. Pois também o humor, e não só a justiça, mora na palavra.

O Sobrinho do Mago

Um fator que me surpreendeu durante a leitura foi o toque cômico e os diálogos cheios de bom humor. Eu ficava rindo de verdade durante vários momentos da leitura. Depois, lendo mais livros de Lewis – como Cartas de um diabo a seu aprendiz -, descobri que é um característica do Lewis trabalhar o cômico em histórias profundas.

Devo confessar que tenho dificuldade em rir lendo, tendo em vista que acho muitas vezes brega ou forçado diálogos, acontecimentos ou pensamentos que parecem ter o intuito de provocar risada. Mas este é o ponto aqui: as tiradas do Lewis são bem despretensiosas. Não parece haver aquela vontade de fazer você rir, e, justamente por isso, eu acabava dando risada. São coisas simples e até mesmo bobas, mas bem humoradas.

Para mim, um dos momentos mais lindos da história é perto do final, em que as crianças se queixam sobre a falta de algo que precisam e recebem a resposta “tenho certeza de que Aslam teria feito isso… se vocês tivessem pedido.”. A partir disso se segue um pequeno diálogo que sobre a importância de pedir mesmo que Aslam já soubesse o que eles precisavam/queriam. É impossível não ver a importância da oração ali, em como Deus ama que seus filhos lhe peçam e falam a Ele o que precisam, mesmo que Ele já saiba de todas as coisas.

Sem dúvidas, é uma excelente leitura para adultos, trazendo aquela magia singela de contos de fadas e histórias fantásticas. Mas também é um livro perfeito para ensinar as crianças, lendo em voz alta e mostrando a elas as referências bíblicas e os paralelos de determinados trechos da história.

Como já falei em outros artigos, a leitura de ficção é fundamental para a construção do nosso imaginário. E que coisa mais preciosa poder preencher o imaginário de uma criança com boas referências!

O que você ouve e vê depende do lugar em que se coloca, como também depende de quem você é.

O Sobrinho do Mago

A minha edição de O Sobrinho do Mago é da WMF Martins Fontes. No entanto, a Harper Collins tem lançado toda a coleção, com capa dura e ilustrações coloridas. Também vale a pena comprar o livro único, onde estão inclusas as 7 histórias.